Até na morte somos difamados

A notícia é de hoje e está no Público online. Leiam o meu relato do ano anterior, de uma semana de indisciplina, que descrevi em traços largos. Entenderão agora melhor o desespero a que se pode chegar actualmente nesta profissão.

Se nos queixamos, somos considerados maus professores. Se nos matamos, somos considerados doidos:

DREL sublinha necessidade de acompanhamento psicológico dos alunos – O responsável pela DREL confirmou hoje que o docente que se suicidou tinha «alguns problemas psicológicos», e alertou para a necessidade de impedir que os alunos fiquem traumatizados. (In TSF).

Até na morte somos difamados!

Aqui vai o artigo do Público, na íntegra:



Luís não avisou ninguém do acto radical. Mas radicalizou, segundo a família e os colegas, os apelos junto da direcção da escola para que resolvesse a indisciplina, em particular naquela turma. Fez várias participações que não terão tido seguimento. O PÚBLICO tentou ouvir a directora da escola, que justificou que só presta declarações mediante autorização da Direcção Regional de Educação de Lisboa. Fizemos o pedido e não recebemos resposta. Contudo, foi possível apurar que a Inspecção-Geral da Educação tem participações do alegado incumprimento da legislação sobre questões disciplinares por parte da direcção daquela escola.

Personalidade frágil
Na escola, impera o silêncio e os funcionários fazem um leve encolher de ombros. Alguns, sob anonimato, asseguram, tal como a família, que Luís era alvo de bullying e estava "profundamente desesperado e deprimido". A irmã de Luís, também professora, admite que o irmão era "uma pessoa complicada, frágil e reservada", mas assevera que era "um professor competente", cujos apelos "a escola ignorou". "Apenas lhe propuseram assistir a aulas de colegas para aprender a lidar com as provocações", diz.

A irmã descreve a profunda tristeza do professor nos últimos meses, ao longo dos quais "desabafou muito" com os pais, com quem ainda vivia. Nunca deu indícios do acto. Foram encontrados, depois da morte, no seu computador. "Se o meu destino é sofrer dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim - e não tendo eu outras fontes de rendimento -, a única solução apaziguadora será o suicídio." A frase encontrada não deixa dúvidas. Há vários desabafos escritos em alturas diferentes que convivem lado a lado com as participações sobre alguns alunos.

Luís somava à Música uma licenciatura em Sociologia e chegou a ser jornalista durante alguns anos. Era também cronista no Boletim Actual da Câmara de Oeiras, onde, no ano passado, dedicou algumas palavras aos problemas das escolas: "O clima de indisciplina nas escolas está a tornar-se insustentável. E ainda há quem culpe os professores, por falta de autoridade. Essas pessoas não fazem a mínima ideia do ambiente que se vive numa escola. Aconselho-as a verem o filme A Turma". No último boletim, o autarca Isaltino Morais dedicou-lhe um texto onde recorda a "perspicácia e apurado sentido crítico" de Luís.

Os alunos dividem-se sobre o professor, mas concordam que "era muito calado" e que "não convivia muito nem com alunos nem com professores". Uns recordam com saudade as aulas onde puderam tocar instrumentos e ver filmes relacionados com música e dança. Outros insistem que "ele era estranho" e que "não impunha respeito". Mas não negam que eram "mal comportados". "Portava-me sempre mal, mas não era por ser ele. Somos assim em todas as aulas, é da idade", reconheceu um dos alunos que tiveram mais participações por indisciplina.

Outra aluna, a única que, no fim das aulas, ficava para trás para conhecer melhor o silêncio de Luís, lamenta a partida "prematura" e arrepende-se de não ter ficado mais tempo a conversar com ele. "Tive medo do que as pessoas podiam dizer se me aproximasse. Sinto-me muito mal por não ter ajudado mais. Uma vez arrancámos-lhe um sorriso. Quando sorria era outra pessoa."
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Todos nós, professores, adorávamos poder sorrir todos os dias. Foi para isso que escolhemos esta profissão. Para nos dedicarmos com alegria aos alunos, que são a nossa felicidade!

Comentários

  1. Pelo que tenho ouvido a professores de muitas escolas de todo o país, um dos GRANDES PROBLEMAS DAS ESCOLAS encontra-se nos conselhos executivos e actualmente nos directores & respectivo séquito.

    Incompetência total quer em termos de relações humanas (simples boa formação pessoal) á total incompetência técnica. Uns brutinhos, com um pau na mão a perseguir quem trabalha. Umas bestas sem qualquer formação humana e pedagógica. Um escândalo.

    Exercem violência psicológica continuada sobre professores, das mais diferentes formas.

    Temos de chamar os BOIS pelos nomes.



    Mesmo dentro das escolas, é probido falar do que se passa (…). Os “factos” ficam circunscritos aquele nº de pessoas. Bico calado! – é a ordem.

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