Quarta-Feira, 18 de Março de 2009

Hoje é o meu dia não-lectivo. É verdade, os professores por vezes têm um dia da semana em que não dão aulas. Mas fazem reuniões, preparam aulas, vêem trabalhos e testes, escrevem nas suas páginas do moodle e outros suportes informáticos dedicados ao ensino dos seus alunos.

Falo no presente, mas na realidade já não é bem assim. Antes, quando tinha dia não-lectivo, caso estivesse bom tempo levava o trabalho para o parque que fica perto da minha casa, e aproveitava a inspiração da Natureza para retemperar energias, oxigenar, e sobretudo preparar aulas ou ver trabalhos que requeressem mais reflexão.

Hoje já não é assim. Três horas da minha manhã foram dedicadas a escrever cartas registadas para Encarregados de Educação com relatórios de faltas injustificadas, retenções por faltas, e a redigir relatórios de ocorrências disciplinares na minha Direcção de Turma. A contabilidade:

- Um aluno que chamou estúpido ao professor de Matemática, alegando (sem razão!) que este lhe tinha corrigido mal o teste.

- Uma aluna que esbofeteou outra violentamente e lhe puxou os cabelos, tendo-lhe cortado a boca por dentro, devido a uma confusão de rapazes, telemóveis e Internet.

- Um aluno que se levantou do lugar em plena aula de Educação Tecnológica, e desferiu uma saraivada de socos noutro.

Recebi dois Encarregados de Educação, que só vieram à escola depois de os seus filhos terem sido "retidos por faltas", que é chumbar por faltas sem chumbar.

"Não sei o que é que lhe hei-de fazer..." - foi a frase mais ouvida.

E foram quatro horas e meia de trabalho maçador e inútil, seguidas de almoço, e de tarde o oásis da minha semana: o clube. Aqui só estão alunos que gostam, que escolheram inscrever-se no clube, que têm interesses elevados que os trazem para estas coisas, e que por isso se comportam bem.
Ensino e eles toma atenção. Exemplifico e eles fazem. Não tenho que ralhar nem preencher recados em cadernetas, folhas de registo de ocorrência e relatórios disciplinares. Não saio desmoralizado e doente.

Dantes, ensinar era assim.

A terminar o dia, uma reunião para retenção por faltas de um aluno. Mais um culminar de uma via sacra de burocracia, que não serve rigorosamente para nada.

No final da semana conto fazer a contabilidade desta experiência.

Hoje não dei aulas e evitei ao máximo permanecer sequer no átrio. Evitei problemas de maior. Apenas a constante permanência de alunos em massa no átrio da escola, como acontece todos os dias, sob os mais absurdos pretextos. Basicamente estão ali para atazanar o juízo das funcionárias. É um jogo, para eles. Uma diversão.

A quarta-feira também é dia de os alunos dos CEF (Cursos de Educação e Formação) estarem nos seus "estágios". A escola fica mais calma. Apenas os jovens que estão cá fora, ao portão, a fumar tabaco e não só, e a beber cerveja da garrafa, são outros que não os CEF.
Quando sai ou entra professor ou professora, o catálogo do palavreado mais obsceno que existe é imediatamente debitado a plenos pulmões, e as cenas de sexo ao vivo com roupa crescem momentaneamente de intensidade. Mas isso não é só às quartas-feiras.

Comentários

  1. Uma questão:

    Essa escola está abrangida pelos contratos Teip?

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  2. Não, caro DA. É uma escola normal, digamos assim. A Polícia só poderá intervir activamente na escola após o primeiro "incidente verdadeiramente grave", que será, suponho, uma cena de facada. Assim reza a lei...

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